Parece que a Ruptura/FER, o último crepúsculo verdadeiramente anti-parlamentar dentro do BE, decidiu abandonar o Bloco. Brevemente, dizem, formarão um novo partido político.
Para além de se terem precipitado para uma inevitável e eterna auto-exclusão, há um ou dois aspectos que são minimamente interessantes de analisar. A saber:
– Mesmo sendo este grupo de longe o mais radical do BE de até agora, a verdade é que o argumento que apresentaram para a sua saída – a ausência de debate interno e a manutenção a todo o custo de uma direcção tornada autista por não ter tirado as devidas lições dos últimos resultados eleitorais – não deixa de ser plausível. A resposta aos resultados das últimas eleições (que constituíram o primeiro recuo do BE nas intenções de voto desde a sua primeira eleição para a AR) mostrou uma direcção que, surpreendida, decidiu deixar tudo como está. Este imobilismo foi amplamente criticado, e muito mais por muitos outros sectores que a esquerda do BE. Seria desejável que esta acção mais vincada da Ruptura/FER marque uma mudança na direcção.
– Essa mudança de direcção não deve ser, contudo, na direcção da Ruptura/FER. Antes pelo contrário. O comportamento do BE nos últimos anos (como aliás tem sido repetido por um leque abrangente de comentadores) tem sido de um típico partido de protesto, sem nenhum contributo palpável, à excepção das questões fracturantes, para a resolução dos inúmeros problemas que Portugal (e, porque não?, a Europa) enfrenta. No entanto, o BE não despiu nem a esquerda nem a sociedade, de preconceitos. Despiu parte da esquerda de credibilidade, sobretudo. Agarrados a uma vulgata ultrapassada pelo tempo, o BE não fez mais nada do que folclore em doses de intervenções parlamentares de três minutos e outdoors visualmente atractivos.
A meu ver, o BE pode aproveitar esta altura para fazer o que já devia ter feito – a altura ideal seria na ressaca das últimas eleições legislativas: apurar as causas que levaram à queda de apoiantes e apontar uma nova direcção composta maioritariamente por elementos da geração pós-criação, com novas ideias, novos rumos (curiosa expressão, esta). Há espaço para o BE em Portugal, sim; mas não como partido de protesto. A solução ideal para o BE, na minha opinião, seria seguir um rumo próximo dos Verdes alemães: sem arrepiar necessariamente caminho das suas convicções, assumir um comportamento mais responsável e, por uma vez, tomar parte da solução. Se o BE se transformar num BE governamentável, talvez nessa altura olhe menos para o Bloco como uma sortido de radicais e mais como um projecto interessante. E credível, sobretudo.
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